O que é fáscia e porque ela importa
Este texto foi criado com base nos artigos do Rolfista e pesquisador Robert Schleip cujo título original é Fascial plasticity: a new neurobiological explanation, publicados em 2003 na revista científica Journal of bodywork and movement therapies.
A fascia é muito mais do que “tecido de sustentação” em nosso corpo. Nos últimos anos, novas pesquisas têm mostrado que esse tecido tem uma capacidade surpreendente de adaptação, sensação e até mesmo de movimento, e o trabalho de Rolfing se beneficia profundamente dessa visão atualizada.
A fáscia é uma rede de tecido conjuntivo que envolve músculos, ossos, órgãos e articulações, dando forma ao nosso corpo e permitindo que tudo funcione em conjunto harmoniosamente. Ela não apenas sustenta, mas também influencia diretamente nossa postura, coordenação, sensação de bem-estar e até nossas emoções.
Plasticidade da fáscia: mais do que um gel
Tradicionalmente, acreditava-se que as mudanças na fáscia eram feitas quase como um processo físico: a aplicação de força mecânica, como pressão ou calor, transformaria temporariamente a fáscia de um estado mais rígido (gel) para mais fluido (sol) – um fenômeno chamado tixotropia. Porém, estudos recentes mostram que essas mudanças rápidas sentidas por quem recebe o toque do Rolfing são difíceis de explicar apenas por modelos físicos, pois exigiriam muito mais força ou tempo do que realmente ocorre em uma sessão.
O papel decisivo do sistema nervoso
A chave para a rápida adaptação da fáscia está no seu rico sistema nervoso. A fáscia está cheia de diferentes tipos de “sensores”, chamados mecanorreceptores, que detectam pressão, estiramento, vibrações e, ao serem estimulados, enviam sinais ao cérebro e ao sistema nervoso autônomo. Isso pode levar a respostas em tempo real no corpo, como relaxamento muscular, alteração do fluxo sanguíneo local e sensação de “liberação” do tecido.
- Ruffini e intersticiais: Receptores especialmente sensíveis à pressão profunda e estiramento lateral, tendo potencial relaxante e modulador do sistema nervoso autônomo (responsável, por exemplo, pelo relaxamento e sensação de conforto).
- Pacini: Detectam vibrações rápidas, mais ativados por movimentos rápidos e precisos.
- Golgi: Ligados ao controle da força muscular e postura, principalmente em movimentos ativos.
Como o Rolfing conversa com esse sistema
Durante uma sessão de Rolfing, o toque do rolfista não age apenas mecanicamente. O contato desperta esses sensores nervosos, ativando circuitos de comunicação entre as camadas fasciais e o sistema nervoso. Isso ajuda a regular o tônus muscular e facilita mudanças nas áreas mais tensas, promovendo relaxamento global e sensação de bem-estar. O toque profundo e lento, típico do método, estimula principalmente os Ruffini, favorecendo estados de relaxamento.
Fáscia viva: adaptações que influenciam dor, postura e emoções
A fáscia é inervada e possui células capazes de mudar sua tensão rapidamente, inclusive por influência do estado emocional, respiração e equilíbrio de substâncias químicas no sangue (como hormônios e neurotransmissores). Em condições crônicas, como fibromialgia, observa-se que a fáscia pode se tornar mais rígida e sensível à dor justamente por esse mecanismo complexo de regulação da tensão e percepção.
O papel do paciente: interação ativa
Rolfing não é um “conserto” feito passivamente. A participação ativa – seja com pequenos movimentos ou atenção à sensação corporal – potencializa os efeitos, pois engaja ainda mais o sistema nervoso e suas capacidades de reorganização. Isso faz da sessão uma espécie de “aprendizado”, ajudando o corpo a encontrar novos padrões de postura, movimento e sensação.
Dicas práticas para aproveitar melhor o trabalho das sessões de Rolfing
- Aprofunde a atenção às sensações durante a sessão.
- Movimente-se suavemente quando solicitado, e perceba as mudanças sutis.
- Respire fundo e lentamente para ajudar a regular o tônus fascial.
- Mantenha curiosidade sobre o próprio corpo – cada mudança pode ser o início de um novo padrão mais confortável.
A fáscia é uma “inteligência do corpo”, intermediando o diálogo entre sensação, postura, emoção e saúde. O Rolfing usa esse potencial, favorecendo a adaptação, o alívio de tensões e a promoção de bem-estar. Esse modelo neurobiológico moderno mostra que não somos apenas uma máquina – somos sistemas vivos, que aprendem, mudam e se regulam, principalmente através do contato, atenção e movimento consciente.