Pés bobos
A maioria de nós ocidentais está acostumado a viver o tempo todo com os pés calçados. Trabalhamos de sapatos, alguns de salto, mas grande parte com calçados de solas duras que não respeitam o formato dos pés mas respeitam a norma de como se vestir e da estética
Calçados esportivos cada vez mais tecnologicos para nos dar mais conforto, absorver impacto e permitir que possamos ir mais longe.
A tecnologia faz o trabalho que nossos pés deveriam fazer, ou melhor, a natureza os concebeu para que os façam: desempenhar o melhor equilíbrio de tudo que vem acima, absorver o impacto vindo do chão e ter precisão para perceber onde tocamos para não nos machucarmos e ao mesmo tempo fazendo com que todo o sistema se adapte a superfície que os pés estão em contato.
Recebo diarimente no consultório pés cada vez mais bobos: arcos que não sabem se comportar entre si (temos três, cada um lida com uma situação da pisada e juntos fazem tudo aquilo que está ali em cima), dedos esmagados por sapatos apertados, tornozelos desequilibrados e corpos que sofrem porque os pés não puderam desempenhar a função para o qual vieram a este mundo.
Calçados mais rígidos deixam os pés mais imóveis e tudo que fica imóvel entra em desuso, fica duro ou flácido, sem vida, sem função. Não é justo deixar justamente a área que lhe suporta na gravidade nesta situação.
Sei que a medicina chinesa não gosta de ver pés descalços no frio, mas há maneiras de aquecê-los e ainda mantê-los livres para poderem se movimentar. Andar descalço é muito importante para o desenvolvimento das crianças e e para a saúde dos adultos, deixa os vários ossos dos pés se articulares e ficarem espertos, mantando centenas de informações para os músculos das pernas (muitos deles ligados diretamente aos ossos dos pés) e de todo o corpo. Caminhar em locais macios, duros, regulares ou irregulares faz de nós um pouquinho mais inteligentes, mais perceptivos, mais espertos e previne uma coleção de lesões, por todo o corpo, como nas articulações dos joelhos, dos quadris e da coluna.
Corredores sofrem com inflamações do tecido conjuntivo da sola dos pés e das pernas e o simples contato mais inteligente com os pés pode prevenir estes problemas, da sindrome compartimental à artrose de quadril passando pela famosa síndrome do piriforme.
Andar descalço pode ser uma terapia. De movimento ao despertar das sensações, da percepcão do equilíbrio, da melhora do amortecimento ou o simples aterrar ao chão e receber a energia da terra.